“Nós vamos invadir sua praia!” projeto social, criado por Jefferson Quirino, está formando a primeira geração de surfistas do Morro do Turano.
“Por que as pessoas da minha área não estão vendo isso? Não estão sentindo a mesma sensação? De olhar por baixo e ver a água deslizando… Eu preciso fazer com que outras pessoas invadam de bonde.”
Dono de uma gigantesca habilidade de fazer conexões e colocar em ação tudo que sente, Jefferson Quirino deu um outro sentido à sua inquietação quando criou um projeto social focado no surfe.
Como gosta de se referir aos jovens que fazem parte do Favela Radical, Jeff é um foguete, que tomou as rédeas do seu próprio caminho e, hoje, mira lugares mais amplos para si mesmo, e para quem embarcou nesse sonho junto com ele. Filho de Seu Inácio e Dona Gilda, Jeff nasceu e vive até hoje na Favela do Turano, área da Zona Norte do Rio de Janeiro, que fica a poucos quilômetros da Praia do Arpoador.
Ainda que a pouca distância nos faça imaginar que o acesso ao surfe nesta região não é tão difícil assim, o empreendedor chama atenção para outras camadas que existem no meio do caminho entre a praia e a favela. Jeff falou sobre isso no papo que bateu com a galera da Redley no sábado dia 13 de abril.
O objetivo é mudar as manchetes do jornal
Em 2010, Jeff desenvolveu um trabalho no Jornal Brasil. Dentro do setor de arquivos, teve como foco desenvolver uma pesquisa voltada para a Favela do Turano. Como resultado, viu que a maioria dos jornais apenas se referia à violência urbana quando o assunto era o seu território, realidade muito diferente do que ele via andando pelas ruas da sua área.
O Morro do Turano já fez Menor do Chapa, já fez Jorge Ben, fez Xande de Pilares, hoje faz o Favela Radical (…) Porém, entra num bolo de comunidades invisibilizadas e marginalizadas (…)
E nesse contexto, entra o nosso trabalho: desocupar as páginas policiais e ocupar outros espaços para que, de fato, os 99% de talento, de oportunidade, de potência, sobressaia os 1%, que é a criminalidade, que é a escassez, que é a pobreza, que é a miséria” – Jefferson Quirino, idealizador do projeto Favela Radical
O incômodo ainda estava lá, quando em 2014, um amigo francês visitou o Brasil e propôs um surfe na Praia do Arpoador. Guilhon não sabia, mas estava apresentando a Jeff uma nova forma de sentir adrenalina, que seria o seu principal motor para promover as mudanças que ele tanto queria ver dentro da Favela do Turano.
Quando a gente fala sobre o surfe, esportes radicais, Favela Radical e praia, isso tudo está dentro de um mixer, porque eu começo com a adrenalina, e depois, eu conheço o surfe, e passo a entender o seguinte: o surfe me faz muito feliz.
É muito ruim ser feliz sozinho: A primeira geração de surfistas da Favela do Turano
Como disse em nossa entrevista, Jeff é o primeiro surfista da Favela do Turano, mas sabia que sozinho, não mudaria muita coisa. Por isso, criou o Favela Radical: para que o legado não estivesse centralizado. Para que a referência fosse múltipla e não única.
O surfista sabia o tamanho da sua responsabilidade, quando em 2017, junto com alguns amigos, fundou o Favela Radical. Ainda sem um local fixo, e sem financiadores, a iniciativa tinha uma proposta muito bem definida: canalizar a energia dos jovens da região em esportes radicais, entre eles, o surfe. Isso mudaria totalmente a conexão desses jovens com a praia, e com os seus “rios internos”.
O surf também tem uma conexão que ela é muito invisível, que é a conexão dos nossos rios internos com os nossos oceanos externos, né? Isso também faz com que eles enxerguem o quanto eles são importantes para si próprios, e o quanto eles se arriscarem a possibilidade de dar certo é importante, e eles fazem isso através do surf. Eles enxergam o surf como uma grande ferramenta… uma grande porta de possibilidades
Como falamos no início da conversa, Jeff vislumbra horizontes cada vez mais amplos para o Favela Radical, e ocupar novos espaços está fortemente conectado com a metodologia que ele busca implementar em seu projeto.
No ano passado, o Favela Radical participou de 2 eventos super relevantes para o desenvolvimento de qualquer surfista amador. Em Dezembro de 2023, eles embarcaram para Garopaba, rumo à Surfland brasileira, e em Julho do mesmo ano, foram até Saquarema, acompanhados pela presença ilustre de Jhon Jhon Florence, para curtir os dias de evento da etapa brasileira da WSL.
Jeff fez questão de trazer a importância da construção de memórias afetivas no processo de engajamento em um novo esporte, que exige desses jovens, também, novos desafios.
“Tudo isso tem como consequência a construção dessa memória afetiva, a construção de pessoas que agora enxergam o seguinte: eu vou ter dificuldade na minha vida, eu vou ter que superar alguns obstáculos, mas agora eu não tô superando a fome. Agora, eu não tô superando a falta de referência. Agora, eu não estou superando a escassez de oportunidades. Agora, a minha superação é um mar grande.”
Conversando com Jeff e com as pessoas que trabalham no Favela Radical foi possível perceber o compromisso que existe na propagação dessa mensagem: é possível construir novos cenários. É possível ocupar outros espaços. É necessário atravessar a cidade, e é necessário extravasar essa alegria. Nisso, é imprescindível ser radical.
O grito de “Vamos juntos!”
Atualmente, o Favela Radical é apoiado pelo projeto Gerando Falcões, e também participa constantemente de editais relacionados a projetos sociais. É por meio da verba adquirida em parceria com esses apoiadores que Jeff, junto com a sua equipe, conseguem manter as aulas de surfe gratuitas.
Tratando-se de um empreendimento social, o lucro do Favela Radical é a quantidade de vidas transformadas, inclusive aquelas que ainda usufruem das atividades do projeto, mas que serão beneficiadas futuramente com um novo imaginário sobre o que é ser surfista, o que é ser skatista e o que é ser escalador.
Para os próximos anos, o Favela Radical tem o objetivo de adquirir sua sede própria e compartilhar sua metodologia de desenvolvimento social por meio do surfe para outras áreas do Rio de Janeiro, tornando esse esporte cada vez mais acessível e impulsionador.
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