Pra ter uma grande história, é preciso um grande protagonista, alguém com um caminho de transformação e eventos que parecem predestinados. No universo do rap, poucos artistas construíram uma narrativa tão cinematográfica quanto Kendrick Lamar.
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Por meio de sua música, Kendrick conta sua própria história, desenrolando-a como um épico moderno, onde o acaso e a consciência histórica se entrelaçam, moldando não apenas sua arte, mas sua identidade. A cidade de Compton, Califórnia, foi o berço dessa jornada.
Primeiro Ato: KDOT
Desde cedo, Kendrick se percebe como parte de algo maior. Aos oito anos, ele testemunha a gravação do clipe de California Love, de Tupac e Dr. Dre, nas ruas de Compton. Pra muitos, um momento passageiro; pra ele, a fagulha inicial de um destino que, anos depois, o colocaria no mesmo panteão de seus ídolos.
Sua paixão pela música começou a se manifestar na adolescência, e aos 16 anos, ele já se apresentava como K.Dot, lançando sua primeira mixtape, The Hub City Threat: Minor of the Year (2003). Esse lançamento inicial fez com que o jovem Kendrick fosse notado na cena local.
Anos mais tarde, assinando com a Top Dawg Entertainment e a Interscope, criando notoriedade nas ruas ao lado de Jay Rock, Ab-Soul, Schoolboy Q, no Black Hippy, e também com a clássica mixtape Overly Dedicated.
Segundo Ato: Kendrick Lamar
Sob a TDE e Interscope, Kendrick Lamar dá seus primeiros passos rumo à grandeza. Com Section.80 (2011), ele se apresenta como uma voz que carrega o discurso social na ponta da língua, mas é com good kid, m.A.A.d city (2012) que ele atinge um novo nível.
O álbum não só se torna um clássico instantâneo, como também estabelece uma barra altíssima pro que viria a seguir. Manter essa qualidade se torna um desafio, mas Kendrick supera com maestria, entregando mais duas obras-primas. Com To Pimp a Butterfly (2015) e DAMN. (2017), ele não só se reafirma como um dos maiores artistas de sua geração, mas redefine os padrões do rap.
Com DAMN., Kendrick se torna o primeiro rapper da história a ganhar o Prêmio Pulitzer de Música, uma conquista histórica que solidifica ainda mais sua relevância e o coloca em um patamar único, tanto dentro quanto fora do hip hop.
Terceiro Ato: DuckWorth
“Because if Anthony killed Ducky, Top Dawg could be servin’ life, While I grew up without a father and die in a gunfight.
A predestinação é uma característica comum em histórias épicas, e Kendrick Lamar, na faixa Duckworth do álbum DAMN., traz esse elemento de maneira única pra sua própria jornada. O encontro entre seu pai, Ducky, e Anthony “Top Dawg” Tiffith poderia ter terminado em tragédia, mas um simples gesto de generosidade mudou tudo.
Nos anos 80, Top Dawg era um nome temido no crime local e, em um dia qualquer, poderia ter assaltado e matado Ducky, que trabalhava em um KFC em Compton. Porém, Ducky ofereceu comida de graça a ele, evitando o pior. Décadas depois, foi Top Dawg quem assinou Kendrick pra sua gravadora, possibilitando que sua história fosse contada ao mundo.
A história de Kendrick Lamar é, sem dúvida, uma mitologia pessoal em constante construção. Ele se tornou o protagonista de uma narrativa épica, onde o destino, as escolhas e os encontros casuais desempenham um papel crucial.
Atemporalidade.
Em entrevista, Dr. Dre chama Kendrick de “forever artist”. Um artista que pode ir e voltar quando bem entender, mas que sempre aparece com relevância.
No último ato dessa história até então, Kendrick aparece mais relevante do que nunca, atingindo mais um grande marco com Not Like Us. E por mais que muito desse momento traga conversas sobre sua rivalidade com Drake, é impossível não pensar que essa história começa com um pequeno Kendrick assistindo à gravação de um clipe em Compton.
O clipe de Not Like Us foi gravado em Compton, com mais de uma centena de pessoas de sua comunidade.
Em meio às provocações e rivalidades que movimentam o rap, Kendrick fez o que sempre soube fazer: transformar sua arte em manifesto, sua música em narrativa e sua presença em história viva.
Se há algo que Kendrick Lamar deixa claro é que grandeza não se mede apenas pelo talento, mas pela capacidade de dar significado ao próprio tempo. E o artista, mais do que um rapper, é um contador de histórias, um autor de narrativas que em vida já se mostra como eterno na história do Hip Hop.
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