A segunda noite do Festival Quintas Quentes foi marcada pela voz de quem resiste, com uma perfeita união entre o entretenimento e o ativismo.
Numa noite histórica no Circo Voador, as atrações do último dia 10 foram três expoentes de resistência dentro do hip hop. DJ TAMY, Nego Gallo e Don L, que além de se posicionarem, apresentaram o melhor que a cultura nos oferece.
Além da casa lotada com um público fiel, tivemos nomes que fazem parte da cultura carioca como Mahmundi, Airá, Lorran Saga, BK’, Theo Zagrae, a rapaziada do Bloco 7 entre outros que chegaram junto pra assistir os shows no meio de geral.
O som do Vinil
A DJ Tamy movimenta o jogo e abre novos espaços. Seu set é sobre isso: construir novas pontes entre um underground que grita, que pede mais da cultura, e o mainstream.
Ontem não foi diferente. O set da DJ foi distribuído ao longo da noite, estando presente em três momentos, não deixando o ritmo cair, jogando mais lenha na fogueira para o que viria a seguir.
“Eu tô muito feliz. Isso é algo que além de importante é um pouco difícil, eu acho que se eu tô aqui não é porque eu sou privilegiada mas sim porque eu fiz meu corre e trabalhei muito pra estar aqui, fazendo parte desse movimento dentro da cultura carioca”, comentou.
O veterano Gallo de briga
Já o Nego Gallo, é um veterano de guerra das ruas e do hip hop. Na última noite o artista brilhou pela primeira vez num Circo Voador lotado, cantando clássicos do Costa a Costa ao lado de Don L, trazendo uma extensão da sua vida enquanto artista periférico para o palco.
O que já estava aquecido, ficou ainda melhor.
“Estar nesse palco é o sonho de todo artista, isso é um grande significado em um momento de tantos desafios à sombra da caretice conservadora. Queria agradecer a Redley pela iniciativa foda e ao público. Que acolhida foda”, disse.
E, por falar em veteranos, Marcão Baixada que é rapper, produtor, estrategista e cria do hip hop carioca, esteve presente no show e falou com a gente sobre a noite:
“Foi incrível, uma experiência foda. O Costa a Costa tem uma influência forte no meu trabalho, eu me identifico muito sendo um cara que veio da baixada. Ver ele e o Don L levantando esse rolé do gueto do gueto me deixa felizão, é algo muito parecido com essa visão que a gente tem entre a Zona Norte e a Baixada e as demais regiões do Rio de Janeiro”, comentou.
Ele ainda comentou sobre a origem de Nego Gallo e sua importância para o rap:
“Outra parada que eu acho foda é o fato do Nego Gallo ter nascido no Rio e ter sido radicado em Fortaleza e mesmo com isso o cara consegue fazer a ponte entre seu rap e a identidade que a gente vive aqui, testemunhando a violência, a desigualdade, tudo isso é muito parecido com a gente”, disse.
O último bom malandro
Com três clássicos solo nas costas, (Caro Vapor/Vida e Veneno de Don L, Roteiro para Aïnouz, Vol.3 e o mais recente Roteiro para Aïnouz Vol.2) o Rapper que também é um veterano subiu ao palco com leveza e sangue nos olhos.
Tudo se encaixou. O beat na rima, a voz e o flow e o público com a força do artista. Se manter assumidamente comunista e ter mais de 10 anos de carreira dentro do hip hop, uma cultura que a indústria cultural empurra diariamente para o capitalismo exacerbado é um ato de resistência.
“Está sendo uma noite especial. A gente fez um show aqui no Rio uma semana depois de lançar o disco e já tava todo mundo cantando as músicas, daí chegar aqui e fazer esse show foi foda, a melhor energia. A gente fez o show junto”, se emocionou.
Cantando as músicas do seu novo disco, o artista presenteou o público com uma noite intensa, público este que trouxe para o show diferentes banners com versos do artista e bandeiras de resistência, como foi o caso de Ana Paula, artista visual, pesquisadora da UFRJ e filósofa que acompanha o rapper em todos os shows do Rio de Janeiro.
“O show estava com uma energia insana. O Don L preparou um show foda, tudo arquitetado, totalmente pensado para o RPA2. Ele estava incrível, presente a noite toda, chegando junto no show do Nego Gallo, emocionando a galera e os próprios artistas no palco se emocionando com aquela energia”, comentou a artista.
Ela ainda complementa:
“Dois pontos altos pra mim foram a participação do Mateus Fazeno Rock, um artista incrível, que merece respeito e foi abraçado pelo Don L na caminhada, e, o grito do próprio público de Lutar! Criar! Poder Popular! Foi muito foda, tudo sincronizado com geral cantando tudo, foi emocionante.”
E mais uma vez o Quintas Quentes cumpre seu papel: o de apresentar uma noite potente e incrível para todo o público, afirmando esse nome como uma das grandes movimentações no Rio de Janeiro nos últimos anos.