Brasil brilhou em sua essência no 77º Festival de Cinema de Cannes
A Redley está sempre ligada no que há de novidade na cena e quando o assunto é cinema mundial o campeão irrefutável tem nome coroado: Festival de Cannes.
O Festival de Cannes, celebrado desde 1946, é um dos eventos mais prestigiados da indústria e neste ano, a 77ª edição do festival foi marcada mais uma vez por momentos icônicos e a presença brasileira deixou sua marca, mostrando a vitalidade e a criatividade do nosso cinema.
Um Palco Internacional
Cannes se distingue por seu caráter global, diferente do Oscar, que é predominantemente estadunidense. No festival, há espaço para cineastas renomados e até estudantes de cinema, podendo concorrer em diferentes mostras. A Palma de Ouro, concedida ao melhor filme da mostra, é a premiação mais cobiçada.
A história brasileira no festival é rica, com vitórias memoráveis como a de “O Pagador de Promessas” de Anselmo Duarte, vencedor da Palma de Ouro em 1962. Nossas vitórias mais recentes foram com “Bacurau” de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles e “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão” de Karim Aïnouz, que trouxeram prêmios importantes em 2019. Este ano, cinco produções brasileiras foram destaque, consolidando ainda mais a presença do Brasil no festival.
“A Menina e o Pote”
Dirigido por Valentina Homem, “A menina e o Pote” teve sua estreia no festival com uma narrativa inspirada em um conto escrito pela própria diretora em 2012. A cineasta contou com a consultoria da antropóloga indígena Francy Baniwa e colaborou com Nara Normande, Tati Bond e Eva Randolph para criar uma obra rica em referências à cosmologia Baniwa e a mitologia Yanomami. Utilizando a técnica de pintura sobre vidro, a animação dá vida a história de um jeito único.
Amarela
Dirigido por André Hayato Saito, “Amarela” concorreu à Palma de Ouro. Ambientado em São Paulo durante a final da Copa do Mundo de 1998, o filme narra a história de Erika Oguihara, uma adolescente nipo-brasileira que enfrenta conflitos culturais e violência durante o jogo. A produção é um retrato sensível e doloroso da experiência de muitos jovens em busca de identidade e aceitação.
“A Queda do Céu”
Dirigido por Gabriela Carneiro da Cunha e Eryk Rocha, este documentário é baseado no livro co-escrito por Bruce Albert e Davi Kopenawa, que explora a vida da comunidade Watoriki do povo Yanomami. “A Queda do Céu” oferece um olhar profundo sobre a cultura Yanomami e faz uma crítica à exploração predatória dos recursos naturais da Amazônia, destacando o impacto devastador do garimpo ilegal.
“Baby”
O longa de Marcelo Caetano foi calorosamente recebido no festival. O diretor expressou sua alegria com a repercussão positiva tanto da crítica quanto do público. “Ver as pessoas falando de ‘Baby’ nas ruas e parabenizando os atores foi incrível,” comentou Caetano. O filme será lançado no Brasil no segundo semestre deste ano e promete conquistar mais corações nos festivais nacionais.
Motel Destino
Dirigido por Karim Aïnouz, o filme se destacou sendo aplaudido por quase 10 minutos após sua exibição, um testemunho da forte conexão que estabelece com o público. Em seu discurso, Aïnouz refletiu sobre os anos difíceis da pandemia e celebrou a alegria de poder voltar a filmar no Brasil. Ele expressou esperança e felicidade, destacando a importância de contar histórias que celebrem a vida e a paz.
A participação brasileira no Festival de Cannes em 2024 mostrou não apenas a qualidade artística e potencial dos nossos cineastas, mas também a importância do cinema Brasileiro como representação de narrativas marginalizadas e histórias antes silenciadas.
É o cinema cumprindo seu papel de impacto como construtor de memória. Filmes como “A Menina e o Pote” e “A Queda do Céu” trazem à tona as ricas culturas e os desafios dos povos indígenas, enquanto “Amarela” e “Baby” retratam as complexidades das identidades culturais e os dilemas sociais.
Essas produções demonstram tanto o compromisso da indústria cinematográfica brasileira em representar a diversidade do nosso país, como também servem de incentivo para que continuemos levando os holofotes e as vozes que precisam ser celebradas no cenário global.