Batemos um papo com Marta Dalla Chiesa, surfista e fundadora do Gay Surf Brazil, sobre liberdade, praia e surfe.
Imagem do último evento, em 2023 | Foto: Instagram Gay Surf Brazil
É muito mais do que ter surfistas LGBTQIAPN+ na água: o que Marta Dalla Chiesa sonha é com pessoas que possam, realmente, se assumir com suas pranchas. E a única maneira de nos sentirmos livres é não escondendo nenhum pedaço da nossa expressão, é o que diz a fundadora do Gay Surf Brazil.
“A presença na água nunca vai ser uma coisa natural se a pessoa não pode ser totalmente o que ela é”
Moradora de Florianópolis e dona de uma empresa de turismo, Marta criou o projeto Gay Surf Brazil depois de receber uma notícia curiosa de Thomas Castets, diretor do documentário Out In The Line Up.
Ele disse:
“Olha, a gente tá com um portal (Gay Surfs on Net), que tem 15 mil pessoas registradas em todo o mundo e o Brasil é a terceira maior comunidade do site, mas quando eu estava trabalhando no documentário, não consegui nenhuma pessoa daí para aparecer na câmera.”
O portal que Thomas fala é o GaySurfers.net : o primeiro site para surfistas gays e lésbicas de todo o mundo. Um espaço seguro para as pessoas se conectarem, marcarem caídas na água, e se sentirem representadas no esporte que gostam.
Naquele momento, Marta soube que existia a necessidade de criar um grupo forte na comunidade. Não só para que mais pessoas pudessem se inspirar e se assumirem enquanto surfistas LGBTQIAPN+, mas também para que novos praticantes chegassem, com uma recepção amigável – que nem sempre acontece dentro d’água.
“Quantos homens gays podem existir em uma crowd predominantemente hétero, que não se sentem confortáveis de se afirmarem? Que acham que não podem falar sobre sua orientação sexual? Não podem falar a respeito.. não dizem nada.”
Marta também falou sobre xingamentos homofóbicos que, com recorrência, acontecem na água e acabam reforçando um preconceito e heteronormatividade dentro do esporte.
O primeiro surf camp LGBTQIAPN+ do Brasil
Com a ideia de trazer acolhimento e quebra de estereótipos, o Gay Surf Brazil organiza surf trips brasileiras exclusivas para pessoas LGBTQIAPN+ e aliados. Todas as atividades são pensadas com o objetivo de garantir a segurança do grupo e aumentar o sentimento de pertencimento dentro do mar.
“Se você tá em um grupo ou com um amigo, você encontra segurança e é divertido, mas se você está em um lugar que é ao contrário… como se você não pertencesse a aquilo ali, já vira uma coisa de estresse.. de medo.”
Marta também fala sobre o estereótipo que existe por trás do homem gay e como isso influencia na exclusão desse grupo no mundo do surfe: “dentro da comunidade nem todo mundo gosta de festa e é urbano…O que as pessoas veem é um estereótipo: o homem, branco, jovem e sarado”
Surf Trip de 2018 | Foto: Instagram Gay Surf Brazil
Inspirando projetos ao redor do mundo
A repercussão do Gay Surf Brazil na mídia internacional foi grande. Além de atrair estrangeiros para as surf trips, inspirou outras iniciativas parecidas com o projeto, como o Gay Surf Week e o SD Gay Surf.
Marta fala da disseminação desses grupos e coletivos com muito carinho, porque acredita nessa saída para aumentar a presença de surfistas LGBTQIAPN+ no esporte, além de manter os que já existem.
“Dar visibilidade para esses surfistas que já estão na água e, com isso, permitir a outros segmentos da comunidade que nunca vieram por medo dessa cena tão machista, tão heteronormativa… eu acho que isso justifica essas novas organizações e comunidades no surfe. Enquanto o surfe não for pra todo mundo, temos a necessidade de existir”
Gay Surf Week de 2018 | Foto: Instagram Gay Surf Week
O que vem por aí no Gay Surf Brazil
A próxima surf trip do projeto de Marta acontece na Praia da Pipa – Rio Grande do Norte – em Outubro, do dia 11/10 ao dia 18/10 e todos da comunidade, assim como pessoas aliadas, estão convidados.
“Quero muito que tenha mais gente com o Gay Surf em Outubro. Mais lésbicas, mais pessoas trans, mais gente da comunidade para que a gente consiga aumentar e criar nossas comunidades para todos os lados.”
Quem não quiser ou puder seguir toda programação da surf trip, mas quer conhecer o grupo, pode se juntar ao Gay Surf Brazil em um dos dias da viagem: a data é divulgada para pessoas interessadas por meio de mensagens diretas e no Instagram.
Daqui pra frente, Marta pretende criar estratégias para que as surf trips e encontros sejam mais democráticos para o público brasileiro, com alternativas mais econômicas e flexíveis. Para isso, a empresária convida apoiadores, marcas e parceiros a conhecerem a iniciativa e entrarem em contato.