Ao longo das décadas, os cinemas de rua foram mais do que simples espaços de exibição; eles marcaram gerações, moldaram a cultura urbana e resistiram às mudanças do tempo.
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Já parou para pensar como a experiência de ir ao cinema mudou? Em um mundo dominado pelas mais variadas plataformas de streaming, o cinema tem ficado cada vez mais distante — tanto geograficamente quanto financeiramente.
Se antes as grandes redes de cinema já eram um desafio para os cinemas de rua, hoje até mesmo essas enfrentam dificuldades. Com isso, espaços vêm desaparecendo, tornando o cinema cada vez mais elitizado. Mas por que devemos nos preocupar com isso?
O contexto inicial do cinema de rua
Desde o início do século XX, as salas de exibição começaram a surgir nos centros urbanos, tornando-se importantes espaços de sociabilidade e difusão cultural. Entre as décadas de 1930 e 1970, viveu-se a era dourada dos cinemas de rua, com salas emblemáticas, como o Cine Metro, no Rio de Janeiro, e o Cinema Ufa Palácio, em São Paulo.
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Com a modernização das cidades e a chegada dos shopping centers nos anos 1980 e 1990, muitos desses espaços fecharam suas portas, dando lugar a lojas e templos religiosos. O avanço das novas tecnologias e das plataformas de streaming também alterou a forma como as pessoas consomem filmes, tornando a ida ao cinema menos frequente.
Entretanto, o cinema de rua nunca desapareceu completamente. Sua resistência pode ser vista em iniciativas de preservação e reabertura de salas históricas, além da ascensão dos cineclubes, que levam projeções para praças, centros culturais e comunidades periféricas.
Direito à Cultura
“Cultura é igual feijão com arroz, é necessidade básica. Tem que estar na mesa, tem que estar na cesta básica de todo mundo”. – Gilberto Gil
O cinema de rua sempre foi mais do que uma sala escura com uma tela grande. É um espaço acessível, com ingressos mais baratos e uma programação diversificada, que inclui filmes nacionais e independentes.
Diferente dos cinemas de shopping, onde os ingressos e até a pipoca são caríssimos, os cinemas de rua davam aquele respiro democrático para quem queria se conectar com a cultura.
O problema é que, com o tempo, esses espaços foram sumindo, deixando para trás apenas salas em shoppings e plataformas de streaming. Isso compromete o direito à cultura, o acesso democrático ao audiovisual e a diversidade cinematográfica.
Cineclubes e Resistência
Se tem uma coisa que os operários da cultura sabem fazer é resistir. E os cineclubes são uma alternativa que provam isso. O Cine Joana Darc, em Nova Iguaçu, o Cineclube Donana, em Belford Roxo, e o Cineclube Zezé Motta, que circula pelo Rio de Janeiro, são exemplos de quem se movimentam em prol da democratização do acesso á cultura por meio do cinema.
Outros exemplos são: o Cineclube Atlântico Negro, na Bahia, o Cineclube Paratodos, em São Paulo, o Cineclube Bamako, em Brasília, o Cine Guarani, em Curitiba, e tantos outros espalhados pelo Brasil seguem firmes, levando filmes e debates para as comunidades e mantendo viva a chama do cinema popular.
Esses espaços são mais do que lugares para ver filmes. Eles são pontos de troca, de aprendizado e de conexão. Depois da sessão, sempre rola um papo, um debate, uma troca de ideia que faz o filme ganhar um novo sentido. É cinema, mas também é resistência, memória e comunidade.
Mantendo o cinema vivo
Felizmente, alguns cinemas de rua ainda resistem e continuam sendo espaços essenciais para a cultura e o acesso democrático ao audiovisual. O Cine Odeon, no Rio de Janeiro, Cine Passeio, em Curitiba e o Cinema São Luiz, em Recife, são alguns exemplos de resistência, permanecendo como patrimônios para história do nosso país.
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A luta pela sobrevivência desses cinemas não é apenas sobre nostalgia, mas sobre manter vivos espaços de encontro, troca e formação cultural. Apoiar esses lugares, frequentá-los e exigir políticas públicas que garantam sua permanência é essencial para que a tradição dos cinemas de rua siga firme por muitas gerações.